terça-feira, 20 de novembro de 2012

Desertos porque eles acontecem?




“Eu os tirei do Egito e os levei para o deserto” – Ez 20.10
        
A palavra “deserto” vem do latim desertu e significa “lugar solitário” ou “de solidão”; lugar ermo. O povo de Israel enfrentou o deserto em sua caminhada à terra prometida. Curiosamente o deserto surge na vida dos israelitas após 400 anos de escravidão egípcia e tem a duração de 40 anos. O trajeto do Egito à Canaã, terra prometida por Deus aos filhos de Israel, levaria no máximo 40 dias para ser completado. Mas Israel levou 40 anos. Quem foi o responsável por tamanho equívoco? Moisés? Os seus auxiliares? A falta de um bom GPS?Primeiramente, não se tratou de um equívoco, mas de uma experiência criada propositalmente; e não teve nada a ver com falha humana, nem com ação maligna, mas com o próprio Deus. Centenas de anos após a vivência dessa experiência, Deus chama o profeta Ezequiel e revela:


“Você sabe quem estava por detrás daquele aparente equívoco que levou Israel para o deserto, depois de 400 anos de Egito? Eu mesmo. Fui eu quem levou Israel para o deserto. Eu estava vendo as abominações que eles estavam cometendo e precisava deixá-los cara-a-cara comigo, fazê-los passar debaixo do meu cajado (objeto que simboliza o cuidado e a orientação pastoral) e se sujeitarem à disciplina da aliança que foi estabelecida entre nós” (Paráfrase de Ezequiel 20).


Interessante é observar que o povo murmurou contra Moisés e o acusou de ser o responsável por toda aquela experiência desértica. Muitos se lembraram das cebolas do Egito, com forte expressão de saudade. Eles não conseguiam discernir, e não podiam discernir, porque eram carnais, que a experiência do deserto não tinha a ver com Moisés, mas com Deus. Sabemos que a geração que entrou em Canaã não foi a mesma que saiu do Egito, pois a geração que deixara o Egito morreu no deserto em virtude de terem murmurado contra o Deus Eterno.

Quando enfrentamos momentos difíceis, é comum perguntarmos por que os estamos experimentando; queremos encontrar uma razão, algo que explique o que estamos passando. Contudo, quando lemos o capítulo 20 do livro do profeta Ezequiel e vemos a experiência de Israel no deserto, provocada pelo próprio Deus, discernimos que muitos momentos de provação nos são permitidos, não para o nosso sofrimento, mas para o nosso crescimento. É que chamamos de “desertos necessários”. É um paradoxo. Mas nenhum de nós amadurece emocional ou espiritualmente se tudo vai bem. 


Precisamos passar por momentos conflitantes para nos desenvolver como pessoas. Isso acontece desde o parto, essa experiência estranhamente dolorosa que nos tira do anonimato aconchegante do útero e nos expulsa para uma realidade estranha. Choramos. Não por causa das palmadas do médico, nem por causa da dor da primeira respiração, comparada à inalação de ácido sulfúrico. Choramos por termos perdido o lugar que nos conferia segurança e comodidade. Mas, não fosse essa dolorosa experiência, não haveria nascimento, nem crescimento, nem desenvolvimento. Apenas morte.


Deus viu que o povo precisava amadurecer antes de adentrar a terra prometida; com efeito, Israel também precisava se livrar dos vícios adquiridos em 400 anos de escravidão. Se eles tivessem saído do Egito e entrado em Canaã, um mês e meio depois, eles teriam estragado Canaã. Do mesmo modo, nós. Se Deus nos abençoar no exato momento em que suplicamos, é certo que não saberemos aproveitá-las e desfrutá-las adequadamente. A imaturidade estraga as bênçãos de Deus.


Se você está passando por um momento difícil em sua vida, não murmure, nem acuse; apenas ore e agradeça a Deus pela grande oportunidade que Ele está lhe concedendo de crescer um pouco mais. Veja cada luta ou provação como um deserto necessário em sua vida. Ao invés de perguntar “por quê?”, pergunte “para quê?”. Pois há sempre um propósito divino por detrás de cada sofrimento. Certa vez, Pedro disse a Jesus: “Mestre, eu não entendo o que o Senhor está fazendo?”. Jesus lhe respondeu: “O que você não compreende hoje, compreenderá amanhã” (João 13.6,7).


Talvez você não consiga compreender as coisas que estão lhe acontecendo hoje; mas, descanse em Deus. O deserto vai passar e, se você o encarou com a humildade de quem conhece e confia em Deus, vai perceber o quanto o deserto foi necessário à sua vida.“Senhor, ajuda-nos a ver cada problema como uma oportunidade de crescimento e amadurecimento. Livra-nos da murmuração que nos torna amargos e mata a nossa esperança, e nos faz acreditar mais no poder do teu amor, do que no poder destrutivo das circunstâncias. Em nome de Jesus, nosso Senhor e Salvador. Amém”.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O barro e o Oleiro por Caio Fábio









Leia Jeremias 18. 1 -  6

Esse é um dos textos do velho testamento mais simbolicamente esperançosos que pode nos vir a mente e ao coração e ele é construído a partir de uma palavra de Deus que fazia com que Jeremias saísse da sua casa e fosse até a rua na certeza de que Deus iria falar com ele pela singeleza de algo que ele não sabia ainda o que seria, mas a palavra de Deus para Jeremias era esta – sai  de casa agora, vai visitar o oleiro, que está trabalhando com barro, fazendo vasos e Jeremias saiu e chegou lá e viu o oleiro, pedalando, no modo mais antigo de se fazer um vaso onde você tem um pedal embaixo, cordas que giram e em cima uma roda maior de madeira vai girando, há um pino aonde o oleiro joga o barro em volta e vai ajustando o barro em volta daquele pino, o barro tem que estar molhado, ele mistura, joga água frequentemente sobre o barro e diz Jeremias: ele estava entregue à sua obra, porque um bom oleiro para fazer um bom vaso ele precisa se misturar com a sua obra, se entregar à sua obra, não há nele possibilidade para distração, ele está ali entregue à sua obra  e o homem estava trabalhando, só que o vaso que ele está produzindo é tirado de um material sem forma, ele é barro, barro que precisa estar maleável, molhado, formatável, exposto a todos os vetores de força física, a gravidade, as interações da força que o oleiro põe  no próprio barro para ir formando alguma coisa, a estrutura, a densidade do material em si, de modo que todos esses fenômenos estão trabalhando juntos, enquanto o oleiro se entrega ao seu trabalho.


E lá estava Jeremias olhando aquilo que o oleiro fazia. E de repente, o vaso que já estava pronto, já estava possivelmente dando arremates nas beiradas, às vezes começa a fazer pequenos cortes, a estabelecer a forma, antes de levá-lo para a fornada, para que ele se torne denso, concreto e rígido, capaz de se tornar um container, belo e útil, para aquele que o criou quando o oleiro já está neste processo de finalização, aquele vaso que aparentemente já tinha a sua forma definida, de repente se esboroa e se esparrama e se desfaz e se deforma e quando Jeremias olhou aquilo, a palavra do Senhor lhe veio ao coração. Não foi um arrebatamento às estrelas que Jeremias sofreu. Ele não foi levado a nenhum mundo paralelo, era apenas a relação de um indivíduo na sua intimidade com o Deus que fala  através de todas as coisas e para quem todas as coisas estão carregadas de sabedorias e de palavra divina. E quando ele viu aquele desastre do vaso nas mãos do oleiro e o coração dele deve ter se tomado por aquele pena, por aquela compaixão, que dizia - já estava no fim, será que ele terá que fazer isso tudo outra vez? e o vaso parecia já tão definido e agora voltou ao nada, à situação informe. Quando a palavra do Senhor Deus lhe vem ao coração como uma pergunta:
– Jeremias, acaso não posso eu refazer a vida, assim como este oleiro vai refazer o vaso que se lhe estragou na mão? Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro? Eis que como barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão – disse o Senhor a Jeremias.

Eu gosto, e como eu disse inicialmente, mais do que gosto, eu me enternuro com esta palavra porque poucas são tão singelas e tão carregadas de esperança para a vida humana, para a minha vida, para a sua vida, de fato para a vida e para a existência de todos nós porque a primeira coisa que a gente aprende olhando para este acontecimento, que  Deus mesmo fez questão de fazê-lo ter aplicação para a existência humana, para a vida de cada um de nós, é perceber que os materiais da nossa constituição são muito frágeis, eu sou literalmente barro, eu sou pó, eu vim do pó e ao pó eu voltarei, a minha constituição intrínseca e transcendente é que é espírito e voltará ao Deus que o deu, mas o todo do meu ser, a contingência de que eu seja um espírito que habita um corpo, e um corpo que carrega em si todos os elementos da ambivalência, da ambiguidade, todas as químicas da contradição, e carrega ainda em si uma alma, compulsões nem sempre controladas, às vezes à revelia e que está sujeito a circunstâncias, a fatores, a vetores de forças invisíveis. Tudo isso cria uma dinâmica de possibilidades em torno da minha existência semelhante a do vaso que de repente em sendo moldado, pode ser subitamente esboroável, ser algo que assusta-nos por percebermos que  ele da noite para o dia ou em instantes pode ser reduzido a um estado de irreconhecibilidade em relação ao que já tinha sido construído, ao que já tinha sido alcançado.

Esta é a primeira coisa, nós somos muito frágeis. Nosso material constitutivo é de uma natureza muito fraca, se de um lado ela é maleável, de um outro lado ela é profundamente frágil e fraca, assustadoramente frágil, o que é extraordinário é a gente perceber a intenção de Deus de construir os seus vasos a partir desse elemento frágil, porque esse elemento frágil carrega uma ambivalência,  ele é tão frágil, quanto ele também é maleável, ele pode ser refeito, reconstituído, retrabalhado, reformatado, recriado literalmente, regenerado, trazido de um estado de falência para um novo projeto. E é isso que anima profundamente o meu coração. A vida inteira quando eu leio essa palavra  ou me lembro dela porque essa imagem do barro me remete para estes materiais de uma fragilidade extraordinária, a minha essência é extremamente frágil e eu existo em um mundo de forças dinâmicas que trabalham poderosamente contra a formatação que Deus pretende estabelecer na minha vida, de modo que a vida pode ser subitamente estragada, mesmo quando a gente está nas mãos de Deus, assim como o vaso estava nas mãos do oleiro.

Mas Jeremias diz:
– O vaso se lhe estragou nas mãos.

Muitos de nós temos tido a experiência de estarmos andando com Deus e subitamente sermos objeto de um aparente estrago da nossa existência, e trágico é quando esse vaso se estraga longe das mãos do oleiro,  como há um outro episódio em Jeremias em que ele fala do vaso longe das mãos do oleiro já todo torrado, que já foi ao forno, que já foi requentado e que se quebrou outra vez, que virou caco e que  não dá mais para ser molhado, transformado numa massa maleável, e esse vira pedaços para todo lado, mas enquanto vaso é uma massa perene que não se sente vaso acabado, mas que se deseja como vaso inacabado sempre, para estar sempre nas mãos do oleiro, para que havendo algum susto, algum estrago, ele seja refeito, há esperança sempre para este ser, para este vaso de Deus nesta existência. Você já pode ter tido a experiência de ter se sentido tão bem formatadinho e de repente, de súbito, ver a vida se estragar, esta é a palavra usada, se estragar, parece que todo o trabalho feito foi desperdiçado, parece que toda energia de construção do oleiro na sua vida, todo carinho, todo cuidado, porque é uma obra de artesão muito cuidadosa, muito delicada, se está lidando com um elemento muito frágil, são toques, são modelamentos, são formas que ele vai criando de maneira quase mágica aos nossos sentidos como ele vai formando e de repente tudo desmorona.

E o coração de Jeremias estava neste estado, ele olhava para trás, para toda a história de Deus com o povo de Israel e via o estado de Israel como esse, de um ente que tinha tido tantas interferências e ações divinas para moldá-lo, mas que de repente se estragou por completo e o Senhor disse: – Jeremias, você viu como o barro que já era quase um vaso  se estragou nas mãos do oleiro? Acaso não posso eu também pegar esse barro que se estragou e fazer dele um novo vaso? Não posso eu fazer isso com vocês, eu sou o oleiro, vocês são o barro, a única coisa que importa é estar nas minhas mãos, essa é a única coisa que de fato interessa,  a única coisa que importa é estar nas mãos dele porque a vida estragada precisa de um projeto novo quando se estraga, conforme aqui se diz: Eu posso fazer outra vez um outro  vaso, não necessariamente nem mais o mesmo vaso porque há certos vasos que se estragam porque Deus tem um projeto novo e um projeto melhor, se o barro está nas mãos do oleiro, porque a vida estragada só tem que estar nas mãos de Deus para que não perca jamais o seu sentido, nem a sua esperança e nem a sua designação. Eis que como barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão.

Eu sei exatamente o que você pode estar vivendo e sentindo tendo já tido a experiência de uma vida que ganhou formas e contornos e definições e visibilização de um acabamento quando de repente a coisa inteira rui e aparentemente se estraga nas mãos do oleiro. Eu tinha conhecido o meu oleiro aos 18 anos de idade e me deixei colocar na roda dele onde ele jogava água da palavra, água do espírito, água do amor, água da verdade, água da justiça, e me mantinha em estado girante na dinâmica do seu pedal sob as forças mais poderosas da sua mão do que as da gravidade, do que a da minha própria densidade constitutiva,  eu estava ali nas mãos dele. O problema é que diferentemente desse barro inerte nós somos um barro vivo, nós somos um barro com livre-arbítrio, nós somos um barro com certas auto-determinações, nós somos um barro com caprichos, nós somos um barro cheio de volições, cheios de vontades, cheios de idéias a respeito da sua própria designação, formatação, aparência, nós somos um barro de vaidades.

E eu comecei ali aos 18 anos de idade, na roda do meu Senhor, do oleiro da minha existência e durante anos, anos e anos o meu barro foi um barro totalmente submisso e feliz conforme os moldes e as construções e as determinações dele na minha vida. Até que chegou um tempo, um pouco antes do meio da década de 90, quando este barro, começou a se tornar um barro frustrado, chateado, amargurado, vaidoso, triste, começou a achar que as coisas a sua volta não mudavam por razões de algum tipo de impotência do próprio vaso em relação não a si mesmo, mas era um vaso com vontade de fazer intervenções maiores, e aí nesse processo, embora o vaso nunca tenha se tirado das mãos do oleiro, por essa simples vontade de auto-determinação em relação a si mesmo esse vaso se estragou na roda e eu me lembro que 4 anos depois, por volta do final de 1999, depois que em 98 me deu a sensação de que o vaso era irrecuperável tamanho tinha sido o estrago, mas no final de 99, início do ano 2000 eu me sentia numa outra roda, numa roda quase que incompreensível, com a minha mente girando, girando, literalmente sem rumo, eu saía da minha casa pela manhã e era capaz às vezes de fazer 12 voltas, 15 voltas numa rotunda porque havia 4, 5 caminhos diferentes saindo daquela rotunda nas proximidades da minha casa e eu rodava, rodava porque a minha mente pensava um segundo em tomar um caminho, no segundo seguinte era outro,  no outro segundo já era um terceiro caminho, de modo que eu estava sempre me arrependendo do caminho que eu tinha decidido pegar no carro. E quando eu via eu já tinha feito 10, 12, 15 voltas na mesma rotunda. Quando eu acordava e dizia: Meu Deus, como eu fui me tornar essa pessoa que gira em torno da mesma rotunda e não sabe nem que caminho seguir? Pelo tufão de possibilidades e impossibilidades instaladas na minha mente que impediu até a determinação da minha escolha básica de uma estrada. E o meu coração dizia:como eu pude vir de onde eu estava? Acordando todos os dias com tudo simples, claro e reto diante de mim para me colocar neste estado de ter a vida parecida com a situação dramática e expressa nesse meu fazer voltas nesta rotunda sem escolher um caminho, sem saber em que direção ir, de modo que eu entendo completamente se  esse for o seu sentimento hoje.

E eu sei o sentimento horroroso de falência, de aparente desconstrução absoluta e irreversível da vida quando a gente entra neste estado. O maravilhoso e o surpreendente disso tudo é que sendo eu e sendo você barros volitivos, com vontade, barros com pseudo auto-determinação, nós nos estragamos nas mãos do oleiro, mas o oleiro não desiste de nós. A gente se sacode para além das mãos do oleiro e derrama nossa própria estrutura pelas beiradas e nós nos esparramamos, mas o oleiro é misericordioso e ele vai nos batizando com mais graça, com mais amor, com mais verdade e ele amassa a gente e ele espreme de novo e ele bate, bate, esmaga, achata e a gente fica ali dentro pensando que ele está nos destruindo e ele está só nos preparando para nos refazer uma outra vez porque ele não se cansa e ele vai batendo, batendo, e quando ele amassa, amassa, esboroa-nos todo e quando a gente fica uma massinha de novo uniforme, o pedal dele se acelera, se acelera, aí ele começa com mais delicadeza e vai nos ajuntando e vai nos elevando e, de repente, o vaso vai ganhando forma. Às vezes era um vaso muito alto que agora ele decidiu colocar numa outra estatura, ele era alto, mas o container era fino, agora ele aumenta, antes as paredes eram mais grossas, agora ele afina as paredes e torna um bojo diferente, ele faz como ele quer e assim somos nós nas mãos desse oleiro eterno. E essa é a palavra da graça por excelência porque fala dessa insistência amorosa do oleiro em nao permitir que o vaso se estrague nas suas mãos por causa desse barro cheio de caprichos, de volições contrárias ao sentido do projeto divino para a nossa existência.

Se você é essa pessoinha que está olhando pra si mesmo hoje e dizendo: Eu me estraguei pelo caminho. É verdade. Você se estragou, foi você, fui eu, fomos nós que nos estragamos. Quando a gente se estraga longe das mãos de Deus, já com aquela pretensão de sermos vasos acabados, é trágico, como diz o Senhor através do profeta Isaías, a gente vira aquele caco, duro, que já  supostamente teria passado pela fornada, que já nao estaria mais disponível para ser consertado, nem molhado, já está enrijecido, mas quando nós somos esse vaso que nunca se afastou das mãos do oleiro, por mais que essa tragédia tenha nos acometido a única coisa que importa é que nós não tenhamos nos tornados vasos de cristaleira, nem de depósito.

A nossa oração existencial tem que ser essa: Senhor, eu quero, todos os dias da minha vida, estar sob as tuas mãos, porque ainda que num surto sutil e imperceptível, as minhas vontades, caprichos, volições me façam ter auto-determinações antagônicas ao teu projeto eu sei que eu vou apanhar, eu serei espremido e amassado, eu serei ajuntado, mas a roda vai se acelerar de novo e tu vais me molhar com teu amor, com teu espírito e com a tua palavra e eu vou ficar outra vez bem maleável, bem molhado, frágil e flexível e tu vais iniciar a obra de refazimento, de reconstrução até aquele ponto em que tu digas para ti mesmo que eu me tornei um vaso de barro, mas no qual tu vais fazer habitar grande tesouro e eu quero me oferecer a ti como um vaso que mesmo que tu digas que está pronto para levar tesouros eu quero me sentir a vida inteira e me pôr a vida inteira nas tuas maos, sem jamais tornar-me um vaso autônomo e independente, eu quero viver nas proximidades do meu consertador, daquele que me cura, daquele que me refaz, daquele que insiste em mim em qualquer que seja a circunstância da vida  ao mesmo tempo em que eu não vou brincar de exercer a minha vontade contra o teu projeto, a minha volição contra o teu desejo, nem o meu arbítrio contra a tua decisão, contra o molde das tuas definições para a minha vida, contra o teu mandamento, contra a construção pré-estabelecida na tua palavra e aplicada à minha individualidade porque tu és aquele que constrói vaso a vaso com o amor de quem constrói uma peça única.

Esta tem que ser a minha oração e a sua  todos os dias da nossa vida porque a existência é dinâmica e os nossos materiais são frágeis e além de frágeis ainda carregam essa pseudo auto-determinação, trabalha contra o oleiro, mas se estivermos na roda da graça, girando no ambiente das suas mãos e se por alguma razão que não tem que ser alguma determinação nossa, só pode ser um acidente, nunca uma escolha, se por alguma razão nós nos auto acidentarmos nas mãos do oleiro, ele vai refazer tudo de novo.

Vai fazer 12 anos que eu me vi rodando vários dias seguidos na mesma rotunda sem saber qual entre os cinco caminhos escolher e hoje eu olho para trás e me lembro de anos e anos de um caminho simples girando na mesma girada, nas mãos do oleiro, feliz da vida, depois eu me lembro daquele período de vaso estragado e me lembro que enquanto ele batia em mim, eu que estava tão acostumado a saber que tipo de vaso eu era não sabia nem que direção que a roda estava girando e eu perdido ainda querendo me compreender no processo, até que eu comecei a relaxar e dizer: eu não tenho que escolher nenhum caminho de auto-determinação em relação a minha vida, eu tenho só que ficar aqui quieto nas mãos do oleiro e quando eu me aquietei e fui entendendo todas as batidas como atos de graça, de amor e de refazimento e todas as águas que ele jogou sobre mim, inclusive as lágrimas do luto, do choro como umidade essencial para refazer o vaso. De repente, eu fui sentindo que a pedalada dele foi acelerando. Aí você olha e diz: Ele está realmente fazendo coisa nova em mim porque ele é bom e porque a sua misericórdia dura para sempre. E a única coisa que eu quero é não sair da mesa onde o oleiro cuida de mim, ele decide tudo, se ele quiser encher o vaso de todos os tesouros, ele sabe que o vaso é de barro, eu não sou dono de mim mesmo, eu só não quero estar longe das mãos de quem pode me refazer e não quero ter nenhum projeto de auto-determinação autônoma promovido por qualquer que seja o sentimento humano, porém afastado da submissão ao mandamento, ao amor de Cristo que nos constrange,  que nos molda, que nos faz e nos preserva nas mãos de Deus.

sexta-feira, 30 de março de 2012

O que Deus nos fala através do OUTONO







Do latim autumnu que significa “declínio”, “queda”. O Outono é a estação intermediária entre o Verão e o Inverno. Aos poucos a temperatura começa a cair. As árvores, antes exuberantes em sua folhagem, começam a ficar amareladas, até que suas folhas sucumbem ao soprar dos ventos cada vez mais frios.

Que mensagem de Deus encontramos implícita nessa estação?

A queda das folhas representa a vaidade e fugacidade da nossa vida. Nossa glória se esvai, nosso orgulho se sucumbe, e nada nos resta senão depender da misericórdia divina.

Em que poderia gloriar-se o homem? Em que poderia se estribar?
“Toda carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre” (1 Pe. 1:24-25a).
Cabe aqui a advertência de Deus: “Parai de confiar no homem, cujo fôlego está no seu nariz. Em que se deve ele estimar?” (Is.2:22).

O Evangelho
 da auto-estima é uma anomalia doutrinária, completamente estranho ao espírito das Escrituras. O genuíno Evangelho da Graça é um golpe fatal na soberba humana, pois declara que o homem é incapaz de salvar-se a si mesmo. A salvação é pela Graça para que “ninguém se glorie” (Ef.2:8-9).

As árvores nuas
 do Outono deveriam ser como um lembrete para nós. Toda sua robustez, vigor, exuberância, exibidas durante o Verão, perdem-se durante a estação da Queda.

Paulo compreendia perfeitamente tal verdade, a ponto de abrir mão de tudo o que poderia envaidecê-lo. Em sua epístola aos Filipenses, o apóstolo dos gentios faz uma breve apresentação de seu currículo:

“Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo” (Fp. 3:5-8).

Paulo se viu como uma árvore que se desnuda ao sabor dos ventos. Nenhuma folha se lhe apegaria. Tudo de que ele poderia se orgulhar agora era considerado “perda total”. Já não importava sua origem étnica, seu pedigree religioso, sua reputação entre os patrícios, nem mesmo seu senso de justiça própria. Era como se ele rasgasse seu currículo em pedacinhos.

Há muitos que se vangloriam em um diploma universitário, em sua posição social, em suas aptidões profissionais, em seu sobrenome, e em tantas outras coisas. Pode-se até impressionar pessoas com isso, mas Deus não Se deixa impressionar com nossas vaidades. Se quisermos agradá-Lo em tudo, temos que nos humilhar debaixo de Suas potentes mãos, e reconhecer nossa bancarrota espiritual.

Há um episódio muito interessante e mal compreendido narrado no Evangelho, em que Jesus amaldiçoa uma figueira ao verificar que não tinha frutos para saciar Sua fome.
"Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. Então ele disse à figueira: Nunca jamais coma alguém fruto de ti” (Marcos 11:13-14a).
Ora, se não era tempo de frutos, por que Jesus foi tão exigente com aquela árvore? Se observarmos bem, verificaremos que a ênfase principal não é a ausência de frutos, mas a presença de folhas. Por duas vezes é dito que aquela árvore estava repleta de folhas, e apenas uma vez é dito que ela não tinha frutos.

Era necessário que a figueira perdesse todas as suas folhas, a fim de frutificar. Provavelmente ainda não era tempo de fruto, mas já era tempo de haver perdido a folhagem. A presença das folhas indicava que quando o tempo de frutificar chegasse, aquela árvore não daria frutos. Por isso, Jesus a amaldiçoou.

Jesus queria nos deixar uma lição. Se quisermos frutificar, temos que deixar nossa folhagem cair. Só haverá Primavera (tempo de florescer) e Verão (tempo de plantar),e se houver Outono (tempo de perder as folhas e frutificar).

As folhas não se soltam e caem por si mesmas. É o vento que as derruba. O frio as faz perder o viçosidade, o vigor. Mas é a força do vento que as derruba. De igual maneira, é o Espírito Santo, que uma vez soprado sobre nós, faz esvanecer nossa vaidade, e cair nossa arrogância. Em vez de depender de nosso preparo, de nossas obras, passamos a nos valer inteiramente da Graça, e a depender totalmente da provisão de Deus em Cristo.

A esta altura, alguém pode estar perguntando: Ora, se não devo me valer de meu preparo intelectual, então, qual a necessidade de gastar cinco anos em uma faculdade? Pra quê boas obras, se não devo me fiar nelas? Pra quê tanto esforço em vão?

Precisamos enxergar as coisas na perspectiva certa. Mesmo não sendo salvos pelas as obras, somos salvos “para as boas obras” (Ef.2:10). Só não podemos colocar os carros na frente dos bois. Na perspectiva de Paulo, aquilo no qual ele poderia se gloria, tornara-se “refugo”. No texto original, podemos traduzir a palavra gregaskybalon por adubo.

A queda das folhas provê o adubo que vai preparar a terra para frutificar. Antes que a agricultura fosse desenvolvida pelo homem, a natureza desenvolveu uma maneira de se auto-perpetuar. Não havia ninguém para adubar a terra, e assim, provê nutrientes para o crescimento saudável da vegetação. Então, através da decomposição das folhas que caíam, o solo recebia o adubo necessário.

Paulo está dizendo que aquilo em que poderia se gloriar, deveria ser colocado no chão, para que se tornasse adubo, e assim, lhe ajudasse a frutificar.

O lugar de nossa glória é o chão! O livro de Jó fala sobre deitar nosso ouro no chão (Jó 22:24-27). O Apocalipse nos apresenta vinte quatro anciãos que depositavam suas coroas no chão, aos pés do Cordeiro (Ap.4:10). O chão representa nossa dependência de Deus, nosso auto-aviltamento, nossa humildade. Seria por isso, que os crentes primitivos colocavam suas ofertas aos pés dos apóstolos?

Tudo o que temos e somos pode ser bênção, como também pode ser um empecilho em nossa comunhão com Deus; vai depender da perspectiva com que nos relacionarmos com isso.

Soltemos nossas folhas, e as deixemos ao sabor do vento.

Algumas delas cairão junto às nossas raízes, e ali ficarão até se decomporem. Outras, porém, serão espalhadas pelo vento, e se tornarão adubo para outras árvores. E assim, aprenderemos a depender uns dos outros, e principalmente, de Deus. Muitos são os canais pelos quais nos vem a provisão, mas a fonte é uma só: DEU
S.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A glória das cicatrizes




Por Rubinho Pirola




"...pois tu me levantaste e me abateste". Salmos 102:10


Ninguém gosta de portar cicatrizes. 
Elas são o atestado das nossas lutas e, inevitavelmente, atribuídas ao fracasso, ao erro, ao infortúnio.


Elas chamam para quem gosta de apontar dedos, aos escarnecedores, aos religiosos, aos cheios de justiça própria, a atenção para o que saiu errado, para os seus possíveis motivos punitivos.


Já ouvi certa vez, que devia-se desconfiar de todo homem de Deus que não as possui. E simplesmente pelo fato de que elas mostram uma certa experiência, nunca sem dor ou sem desassossego. E com Deus.


Nesse salmo, David não deixa dúvidas - Deus o levantou. E Ele também - não o diabo, não os inimigos, não a criatura, não as circunstâncias. E, como tudo o que Ele faz, com um propósito.
Ninguém gosta de exibir as suas mazelas. Os pés de barro. Alguns, não conseguem escondê-las. Preferem as máscaras e as próteses e essas, quanto mais perfeitas e imperceptíveis, melhores.


Hoje valorizo as minhas cicatrizes que continuam a vir sobre mim. Tenho descoberto que elas não me diminuem, mas, ao contrário, me levam mais perto de Deus e acabam como marcas desses "encontros".


São lembretes. Da nossa condição de fragilidade e pequenez, e no fim, quando fechadas, atestam sempre que passamos por Deus e saímos crescidos e mais conhecedores da Sua graça e bondade. O Caio Fábio disse certa vez: "Não há um homem de Deus, que não tenha sido elevado e depois abatido por Ele". Lembremo-nos de Jacó, de Elias, de David, de Daniel, de Paulo e de tantos outros. Não saíram mais os mesmos depois disso.


E, como me ensinou Alan Brizotti, um amigo querido: "Elas acabam sendo úteis para curar a outros". Não são os êxitos que curam. Mas o que ficou em nós depois da provações e lutas com Deus. 


Como foi com Jesus (Homem de dores e que sabe o que é padecer!) que, mesmo depois de voltar dos mortos e com um corpo bem diferente do que tinha (que até podia ultrapassar portas e paredes), manteve uma coisa especial do corpo anterior - os sinais dos cravos. E com eles, curou o incrédulo Tomé.


A minha oração é que eu valorize cada minuto nesse processo de "marcação". E em silêncio, sem queixume ou apontamento de possíveis promotores desse momento para além de Deus, acertando-me com Ele. E valorize, o que quase ninguém quer. Que talvez até os anjos desejassem se lhes fosse permitido, mas que hoje, aos humanos, não trazem sucesso algum.



Lido em: Rubinho Pirola

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Nossa consagração e inauguração da Cidade Mundial - 01/ 01/2012

O ano de 2012 começou pra mim de forma muito especial e com muitas mudanças, boas é claro! Realmente eu gostaria de encontrar alguma palavra que pudesse descrever tudo o que senti naquele lugar mas isso é simplesmente impossível, toda consagração de Bispo é sempre muito linda e emocionante mas ter o 1º dia do ano de 2012 e a inauguração da cidade Mundial como palco desse momento foi a maior alegria que já senti na vida, e vai ficar pra história desse ministério! Não sai da minha cabeça o momento em que o apostolo orou em lágrimas pedindo a Deus que tirasse da unção que havia na vida dele e colocasse na nossa, EU CREIO! Foi tão lindo ver o Bp Josivaldo em lágrimas super emocionado com aquele momento!! Enfim meus amigos foi tudo muito FORTE!! E agora passado os momentos de euforia é colocar os pés no chão, porque como o Ap. mesmo disse somos mais servos do que nunca! Então deixo com vocês o vídeo da nossa consagração!! Momento mais lindo de toda minha vida! O apostolo deu um verdadeiro manual de conduta pra quem quer verdadeiramente servir à Deus!!!