segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A água e Envelhecimento




Arnaldo Lichtenstein (46), médico, é clínico-geral do Hospital das Clínicas e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).


Sempre que dou aula de Clínica Médica a estudantes do quarto ano de Medicina, lanço a pergunta: 


"Quais as causas que mais fazem o vovô ou a vovó terem confusão mental?"
Alguns arriscam:
"Tumor na cabeça".
Eu digo:
"Não".
Outros apostam:
"Mal de Alzheimer".
Respondo, novamente:
"Não".
A cada negativa a turma espanta-se.
E fica ainda mais boquiaberta quando enumero os três responsáveis mais comuns :
diabetes descontrolado;
infecção urinária;
a família passou um dia inteiro no shopping, enquanto os idosos ficaram em casa.


Parece brincadeira, mas não é.
Constantemente vovô e vovó, sem sentir sede, deixam de tomar líquidos.
Quando falta gente em casa para lembrá-los, desidratam-se com rapidez .
A desidratação tende a ser grave e afeta todo o organismo .
Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos ("batedeira"), angina (dor no peito), coma e até morte.


Insisto :
não é brincadeira.
Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água.
Na adolescência, isso cai para 70%.
Na fase adulta, para 60%.
Na terceira idade, que começa aos 60 anos, temos pouco mais de 50% de água.
Isso faz parte do processo natural de envelhecimento.
Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica.


Mas há outro complicador:
mesmo desidratados, eles não sentem vontade de tomar água,
pois os seus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.


Explico:
nós temos sensores de água em várias partes do organismo.
São eles que verificam a adequação do nível.
Quando ele cai aciona-se automaticamente um "alarme".
Pouca água significa menor quantidade de sangue, de oxigênio
e de sais minerais em nossas artérias e veias.
Por isso, o corpo "pede" água.
A informação é passada ao cérebro, a gente sente sede e sai em busca de líquidos.


Nos idosos, porém, esses mecanismos são menos eficientes.
A detecção de falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas.
Alguns, ainda, devido a certas doenças, como a dolorosa artrose, evitam movimentar-se até para ir tomar água .
Conclusão:
idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seu corpo.
Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam de grandes perdas, como diarréias, vômitos ou exposição intensa ao sol.
Basta o dia estar quente - e o verão já vem aí -
ou a umidade do ar baixar muito -
como tem sido comum nos últimos meses.


Nessas situações, perde-se mais água pela respiração e pelo suor.
Se não houver reposição adequada, é desidratação na certa.
Mesmo que o idoso seja saudável, fica prejudicado o desempenho das reações químicas e funções de todo o seu organismo.


Por isso, aqui vão dois alertas.
O primeiro é para vovós e vovôs:
tornem voluntário o hábito de beber líquidos.
Bebam toda vez que houver uma oportunidade.
Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água-de-coco, leite.
Sopa, gelatina e frutas ricas em água, como melão, melancia, abacaxi, laranja e tangerina também funcionam. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro .
Lembrem-se disso !


Meu segundo alerta é para os familiares:
ofereçam constantemente líquidos aos idosos.
Lembrem-lhes de que isso é vital.
Ao mesmo tempo, fiquem atentos.
Ao perceberem que estão rejeitando líquidos e, de um dia para o outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, atenção.
É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação.
Líquido neles e rápido para um serviço médico.




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