Fui convidado para falar na celebração dos 20 anos de uma empresa que atua no mercado da moda. Decidi falar sobre a fórmula da beleza. Dei asas à imaginação e pensei na modelo atravessando a passarela. Considerei que a beleza que desfila se resume no conjunto de três características: simetria das formas, harmonia das cores, e leveza do movimento. É a minha síntese da beleza estética.
Lembrei da observação do sábio Salomão: “o coração alegre traz beleza para o rosto”, e não demorou muito para que eu caísse no cliché: o mais importante é a beleza interior. Chamei a beleza interior de beleza ética. E então concluí que é a beleza ética que faz florescer a beleza estética.
O passo seguinte foi definir o mínimo de características da beleza ética. Eis a minha síntese: pureza da consciência, grandeza de caráter e generosidade anônima. A pureza é aquela integridade de motivos, coisa de quem não tem agenda oculta e faz o que faz simplesmente porque é o que deve ser feito, sem interesses escusos e motivações mesquinhas por trás. É também uma dose de sinceridade e autenticidade, uma postura não dissimulada, própria de quem é o que é e não pretende se passar por algo diferente, não faz pose nem usa máscara.
A grandeza do caráter tem a ver com honestidade, verdade, justiça, mas também com a genuína humildade, um jeito meio singelo de sequer fazer qualquer referência a si mesmo, pois os grandes se julgam pequenos e se ocupam mais da vergonha pelos seus pecados do que no alardear de suas virtudes. A elegância faz deferência ao outro, tira o foco de si mesma e faz brilhar quem está perto. O cárater íntegro não é perfeito, mas também não é dissimulado. Não é questão de perfeição, mas de coerência.
A tríade da beleza ética é composta também pela generosidade anônima. Ocupada com o amor ao próximo, doadora, não egoísta e não egocêntrica, dedica-se a servir sem se sentir diminuida e faz o bem com simplicidade e naturalidade, de modo que “a mão esquerda não sabe o que fez a mão direita”.
Considerei também que a beleza não é um fim em si mesma. Não desejamos tanto ser belos. O que queremos mesmo é seduzir. Não necessariamente a sedução erótica. Falo de seduzir como de cativar. O que desejamos é ser acolhidos, aceitos, admirados e desejados. Enfim, queremos ser amados. E em algum momento fomos convencidos de que a beleza estética é o caminho mais curto. Mas somente pessoas superficiais acreditam nisso. Salomão tinha razão. Quem tem a beleza ética tem também aquilo que nem sempre está presente na beleza estética, e que faz toda a diferença: brilho nos olhos.
Ed René Kivitz
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