Hoje em dia as pessoas se lançam desesperadamente ao jogo para “tentarem a sorte”, mas o cristão reconhece que é melhor andar devagar e construir a sua vida com o “suor do seu rosto” e com o que Deus lhe dá. Muitos sacrificam o que não têm para jogarem. Milhões de pessoas fazem a sua “fezinha” na Loteria, que enriquecerá uma única pessoa (no máximo algumas) e continuará decepcionando muitas.
Não há nenhuma clara e direta proibição bíblica com relação aos jogos, mas a ética, os valores que a Palavra de Deus nos comunica em seu todo, e a consciência do que é uma boa mordomia devem nos afastar desta prática. O problema de muitos de nós é que nos permitimos ser dominados pela compulsão de termos as coisas. Precisamos de “contentamento” em nossas vidas. Esta é uma virtude na vida do cristão genuíno.
O CONTENTAMENTO SE APRENDE
Ao escrever a sua Epístola aos Filipenses, o Apóstolo Paulo falou sobre a importância do contentamento e revelou que isto é uma virtude que devemos desenvolver. O contentamento não aparece imediatamente ao novo nascimento. É algo que aprendemos:
“Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece. Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas tribulações.” (Filipenses 4.10-14 – NVI)
Quando examinamos o contexto desta afirmação feita por Paulo, percebemos que ele estava em tribulação, ou seja, com necessidades materiais. Os irmãos intervieram com uma ajuda, uma oferta amorosa para o seu sustento, e ele lhes disse que ela veio ao encontro de suas necessidades do momento, ou, como ele mesmo denomina, da sua pobreza. Contudo, o apóstolo não reclama da sua privação, mas diz que ele aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação.
Observe isto: ele aprendeu o contentamento, o que significa que, no início da sua carreira cristã, ele não o possuía. E onde foi que ele aprendeu a praticar esta virtude? Em meio à abundância ou à falta? É claro que foi durante a necessidade, pois são em circunstâncias como essas que Deus trata conosco. Quando chegou a provisão enviada pelos filipenses, Paulo teve a vitória sobre a privação e a necessidade. Ele venceu (as circunstâncias) e aprendeu o contentamento (com o que passou).
Ele aprendeu que a sua alegria em Deus independe do que acontece do lado de fora (nas circunstâncias) e que ela deve estar presente em toda e qualquer situação. Ele aprendeu também que não são as circunstâncias que devem reger os nossos sentimentos, mas sim a confiança no Deus da nossa vitória. Ele foi tratado pelo Senhor a ponto de se desapegar completamente das coisas materiais e viver contente pelo fato de que Deus é maior do que os nossos problemas e intervém neles. Paulo diz ainda que ele tinha experiência em todas as coisas, tanto na fartura e abundância, como na falta e escassez, mas que não importava qual o tipo de situação ele teria que enfrentar, pois ele podia todas as coisas n’Aquele que o fortalecia: Deus!
Vemos claramente que o “poder todas as coisas” não significa “não precisar passar por tribulações”, nem tampouco vencê-las tão imediatamente elas cheguem, mas suportá-las paciente e confiantemente, sabendo que a vitória do Senhor é certa e que ela chegará a tempo.
A única forma de não nos deixarmos envolver pela ganância é permitirmos que a Palavra de Deus prevaleça em nossos corações. O que as Escrituras Sagradas mais ensinam no que tange as coisas materiais é que devemos viver com contentamento. O nosso coração não deve ser aprisionado pela ganância, mas sustentado pelo contentamento!
“Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: Nunca o deixarei, nunca o abandonarei.” (Hebreus 13.5 – NVI)
O contentamento é o oposto do “amor ao dinheiro” (que outras versões traduziram como “avareza”), o qual, por sua vez, é insaciável. O contentamento não é apenas um conselho, e sim o padrão que Deus ordena aos Seus filhos.
“Não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes”. (Romanos 12.16 – ARC)
Entre os poucos registros que temos nos Evangelhos sobre o teor da pregação de arrependimento de João Batista, vemos que ele aborda o assunto do contentamento:
“E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal, nem defraudeis e contentai-vos com o vosso soldo.” (Lucas 3.14 – ARC)
Contentar-se com o seu salário era a base do caráter que aqueles soldados romanos necessitavam para não errarem em outras áreas. Muitos dos nossos desvios de conduta originam-se na falta de contentamento. Precisamos permitir que Deus reformule os nossos valores. Temos que ter limites em nossos anseios. Quando queremos muito alcançar o que não podemos é porque já entramos no território da ganância.
O contentamento não inunda o nosso coração só porque fizemos uma oração nesse sentido. Ele vem de acordo com um processo de mudança de valores. Este processo é desencadeado quando começamos a dar ouvidos ao que as Sagradas Escrituras dizem sobre o assunto. A única forma pela qual a ganância é tratada é mediante a renovação da nossa mente pela Palavra de Deus. É necessário meditarmos nos trechos bíblicos que tratam do assunto, decorá-los, proferi-los sempre. É preciso orar sobre eles, pois o contentamento é algo que aprendemos, ouvindo a Palavra de Deus e remodelando valores.
O contentamento não está ligado à falta de condições para uma vida digna; não é uma carência contínua, e sim sabermos esperar até que as circunstâncias mudem. O contentamento não significa uma falta de sonhos ou um comodismo, e sim paciência para darmos um passo de cada vez, sempre do tamanho das nossas pernas; significa não ambicionarmos coisas altivas, mas acomodarmo-nos às humildes.
Paulo disse que ele sabia como passar por escassez e também como ter em abundância. Tanto numa circunstância como na outra, precisamos aprender a nos contentarmos. Na falta, ele se contentava. Na abundância, ele também se contentava. O apóstolo dá a entender nestes versículos que ele não era um esbanjador na hora em que ele tinha de sobra, nem um murmurador na hora em que as coisas estavam faltando. Precisamos aprender estes princípios para também aprendermos como lidar com cada circunstância.
Ao dizer que ele podia todas as coisas n’Aquele que o fortalecia, Paulo mostra que ele havia aprendido de Deus o contentamento, e que, na hora do aperto, era o Senhor que o fortalecia, de modo que ele pudesse suportar o que ele estava passando. Na vida deste homem de Deus, a Palavra do Senhor falava mais alto do que a ganância e a abafava completamente. É este exemplo que nós devemos seguir!
A dificuldade que temos de não nos contentarmos não é proveniente do fato de ser impossível vivermos com menos, mas sim porque não queremos viver com menos, especialmente quando vemos outros vivendo com mais. Juntamente com a ganância, sempre encontraremos, caminhando de mãos dadas com ela, a inveja!
Queremos tanto os produtos de última geração pelo mero fato de que todo mundo os está comprando, e não queremos ficar para trás. Há em nossa carne um senso de competitividade e disputa, e estamos sempre procurando estar por cima. A Bíblia fala que o que nos move de maneira gananciosa, em busca da maioria dos nossos alvos, é a inveja:
“Também vi eu que todo trabalho e toda destreza em obras provém da inveja que o homem tem de seu próximo. Também isso é vaidade e desejo vão.” (Eclesiastes 4.4)
O contentamento provém do quebrantamento interior. É necessário despir-se da ganância e avareza e caminhar em desprendimento. Podemos relacionar o contentamento ao domínio próprio, que é fruto do Espírito. Por outro lado, a inveja é uma obra da carne.
NO QUE CONSISTE A VIDA
Numa certa ocasião, Jesus foi abordado por alguém que Lhe pediu ajuda quanto aos seus bens. Embora a resposta de Jesus possa parecer grosseira, ela revela o aborrecimento que Lhe causamos com a nossa ganância:
“Disse-lhe alguém dentre a multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança. Mas ele respondeu: Homem, quem me constituiu a mim por juiz ou repartidor entre vós? E disse ao povo: Acautelai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância de bens que ele possui.” (Lucas 12.13-15)
Este homem teve uma chance de falar com Jesus e a desperdiçou! A partir de então, o Mestre começou a ensinar que a busca do que é material jamais levará o homem à realização. Viver para enriquecer é insensatez, pois a vida do homem consiste em ser rico para com Deus.
“Propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância; e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12.16-20)
Depois de declarar aquilo em que não consiste a vida do homem, o Senhor Jesus falou sobre aquilo em que ela realmente consiste:
“Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus.” (Lucas 12.21)
Ser rico para com Deus! Este deve ser o alvo de cada um de nós. Não podemos permitir que a cobiça e o materialismo roubem isto de nós. Observe outras coisas que as Escrituras dizem a este respeito:
“Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo conhecimento… de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Coríntios 1.5,7)
Os coríntios foram enriquecidos nas coisas de Deus! Note que não estamos falando contra o fato de sermos materialmente ricos, e sim contra a ganância. Enriquecer materialmente não é errado, desde que o coração não se prenda a isto (Sl 62.10). Contudo, deve haver em nós um anseio de enriquecermos espiritualmente, em Deus. E o anseio por tal riqueza espiritual deve ser maior do que o anseio pelas riquezas terrenas.
Quando o Senhor Jesus falou com as Igrejas da Ásia por meio do Apóstolo João, Ele chamou uma igreja “pobre” de “rica” (Ap 2.9), pois ela era espiritualmente rica, mas Ele chamou uma igreja “rica” de “pobre” (Ap 3.17), pois, nas coisas de Deus, eles eram miseráveis!
A riqueza espiritual tem que vir antes. Se o Senhor permitir que você tenha a riqueza espiritual e ainda a riqueza material, amém. Mas, se você tiver que escolher entre uma e outra, não vacile! Prefira ser rico para com Deus, pois esta é a única e verdadeira riqueza! O Diabo nos impulsiona à ganância, não porque ele queira nos enriquecer materialmente, mas para tentar nos empobrecer espiritualmente, e assim afastar-nos de Deus pela corrupção material. O contentamento é a nossa proteção!
VALORES
Há valores maiores do que os bens e o dinheiro:
“Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro, e com ele a inquietação. Melhor é um prato de hortaliça onde há amor, do que o boi gordo, e com ele o ódio.” (Provérbios 15.16,17)
Aqui a Bíblia está falando de valores espirituais (como o temor do Senhor) e também de valores emocionais (como o amor, ao invés de ódio). Tudo isto deve vir antes do dinheiro!
Já afirmamos que a Bíblia não é contra a riqueza. Pelo contrário, creio que Deus pode e quer fazer com que prosperemos; contudo, é importante entendermos que há uma ordem a ser seguida. O Apóstolo João declarou a Gaio que ele queria que o seu irmão e amigo fosse próspero e tivesse saúde, assim como a sua alma – com valores interiores – era próspera (3 Jo 2)!
O problema da ganância é que ela tenta apressar as coisas e ainda consome o nosso tempo, energia, alvos, e outras coisas em nossas vidas que deveriam ser do Senhor. A Palavra do Senhor nos mostra que o caminho da espera e paciência é melhor. Viver com contentamento não significa acomodarmo-nos de modo a nunca chegarmos a lugar algum. Não! É esperarmos com paciência no Senhor até alcançarmos os nossos alvos! Tem mais a ver com sabermos esperar do que com não esperarmos nada, como erroneamente ensinam alguns.
Veja o que Deus diz sobre o tempo necessário para a prosperidade como fruto do trabalho:
“A riqueza adquirida às pressas diminuirá; mas quem a ajunta pouco a pouco terá aumento.” (Provérbios 13.11)
A ganância lhe diz para você jogar em tudo o que puder dar-lhe dinheiro sem esforço e depressa, mas o conselho de Deus diz que “quem ajunta pouco a pouco enriquecerá”. A ganância também lhe dirá para você não entregar os seus dízimos e também não ofertar; ela tentará mostrar-lhe o “quanto” você poderia fazer com este dinheiro. Mas a Palavra de Deus diz que devemos dar e fazer prova de Deus, pois Ele é a nossa provisão e sustento. Quem confia no Senhor vê a diferença:
“Aquele que confia nas suas riquezas cairá; mas os justos reverdecerão como a folhagem.” (Provérbios 11.28)
Já declarei que a ganância sempre caminha de mãos dadas com a inveja, e agora eu gostaria de mostrar-lhe as consequências da sua decisão de esperar a hora de Deus para você alcançar o que você deseja, ou entregar-se à inveja, porque você vê outros que têm as coisas antes de você:
“O coração tranquilo é a vida da carne; a inveja, porém, é a podridão dos ossos.” (Provérbios 14.30)
Diga “não” à ganância, e você viverá em paz e com uma realização interior. Mas, se você decidir erroneamente e ceder à ganância, saiba desde já quais são as consequências.
Paulo disse a Timóteo que essa cobiça levou muitos a se desviarem da fé e a se traspassarem a si mesmos com muitas dores (1 Tm 6.10). Deus não é contra o fato de você ter dinheiro, e sim contra a ganância. À medida que você prosperar, mantenha os valores certos em seu íntimo. Foi esta a instrução que o Apóstolo Paulo pediu que o seu discípulo Timóteo transmitisse à igreja:
“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas gozarmos; que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos, entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida.” (1 Timóteo 6.17-19)
Os problemas ligados ao dinheiro são claramente abordados: o perigo da altivez e o risco de fazermos das riquezas a nossa esperança.
O contentamento, por sua vez, é a forma de não permitirmos que estes erros nos enlacem. E, justamente por ser o oposto da ganância, o contentamento nos leva a semearmos na vida de outras pessoas através da prática da bondade e da generosidade.
(extraído do livro “Honrando ao Senhor Com Nossos Bens")
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