sexta-feira, 29 de julho de 2011

Dois remédios para as desculpas


HÁ DOIS remédios para esse perigo. Um deles é lembrar que Deus conhece todas as desculpas legítimas muito melhor do que nós. E se, de fato, existem “circunstâncias atenuantes”, não precisamos ter medo de que elas passem despercebidas diante dele. Deus deve conhecer desculpas que nem sequer imaginamos. Portanto, depois da morte, as almas humildes terão a grata surpresa de saber que, em certas circunstâncias, elas pecaram muito menos do que estavam pensando. Todo o processo de perdão real é por conta dele. O que temos de apresentar diante de Deus é aquele restinho indesculpável, que se chama pecado. Ficar discutindo sobre todas aquelas partes que poderiam (supomos) ser desculpadas é perda de tempo. Quando você vai ao médico, você mostra as partes que estão com problemas — digamos, por exemplo, um braço quebrado. Seria perda de tempo ficar explicando que as suas pernas, olhos e garganta estão bem. Você pode até estar errado em sua suposição, mas, se eles realmente estiverem em ordem, o médico o saberá.


O segundo remédio é acreditar real e verdadeiramente no perdão dos pecados. Grande parte da nossa preocupação em dar desculpas vem de não conseguirmos realmente acreditar no perdão, de acharmos que Deus poderá nos rejeitar se não ficar satisfeito e que podemos tirar algum tipo de vantagem da situação em nosso favor. Mas isso não seria perdão. O perdão real significa olhar com firmeza para o pecado (o montante de pecado que restou sem qualquer desculpa), depois que todas as concessões forem feitas, e encará-lo em todo o seu horror, sujeira, maldade e malícia, e, ainda sim, conseguir reconciliar-se totalmente com a pessoa que o praticou. É isso e somente isso que significa o perdão, e podemos obtê-lo de Deus sempre que lhe pedirmos.


— de The Weight of Glory [Peso de Glória]
Retirado de Um Ano com C. S. Lewis (Editora Ultimato, 2005)

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